Pracinhas sergipanos na Segunda Guerra Mundial

19/07/2012 09:15

 

Pracinhas sergipanos na Segunda Guerra Mundial
Artigo de Marlíbia Raquel de Oliveira, graduanda em história

 

 

Em 1942, nos mares entre Bahia e Sergipe, navios nacionais foram torpedeados por um submarino alemão, o U-507. Este episódio dramático foi o estopim para que o Brasil declarasse guerra às potências do Eixo ainda naquele ano. Mas, além da vingança, o Governo brasileiro também enxergava vantagens em ter soldados brasileiros combatendo no “front” de batalha europeu. Para atingir tal propósito, em 1943 foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB) composta por homens de todo o país. Cerca de trezentos deles eram sergipanos. Mas qual era o perfil desses nossos “pracinhas” envolvidos ativamente no conflito mundial?

Bem, a princípio, é importante lembrar que o termo “pracinha” foi conferido a todos os soldados brasileiros que participaram ativamente da Segunda Guerra Mundial (1939-1942). O termo refere-se ao militar de baixa patente e foi utilizado de modo generalizante em alusão aos expedicionários inexperientes que foram à guerra, mas não possuíam carreira militar. Os pracinhas sergipanos, tanto voluntários quanto aqueles convocados, eram jovens e, em sua grande maioria, solteiros. Eram da Capital e de cidades como Estância, Rosário do Catete, Itabaiana, Japaratuba, Aquidabã, Maruim, Capela, Carira, Propriá, Laranjeiras e Frei Paulo. Outros ainda moravam fora, em lugares como o Rio de Janeiro, por exemplo.

Nossos jovens soldados, antes da convocação, desempenhavam as mais diversas funções. Eram lavradores, marceneiros, operários em fábricas de tecido, pequenos comerciantes. Aqueles de carreira militar geralmente pertenciam à classe média e ocupavam cargos mais altos dentro do exército (sargento ou tenente), e atividades de melhor remuneração, como aviador, mecânico ou dentista. Contrariando estereótipos atribuídos por certos críticos – que afirmavam uma ignorância generalizada entre os soldados –, pelo menos alguns sabiam ler e escrever.

Numa das cartas escritas por pracinhas e publicadas no jornal “Correio de Aracaju” (3 de março de 1945) lia-se: “Mamãe, peço que não se preocupe comigo, pois sabe que vou cumprir o meu dever para com a minha querida pátria. A senhora deve orgulhar-se de ter um filho que vai lutar pela liberdade de todos. (...) Se acaso tombar no campo de batalha, será motivo para maior orgulho, porque meu sacrifício não será em vão”. O autor das palavras destemidas era o soldado João Lessa Matos, que escreveu a carta ainda no Rio de Janeiro, antes de viajar para o front europeu.

Assim como os demais expedicionários, os sergipanos experimentaram sofrimentos, descobertas e apreensões durante os dias de triste espetáculo no “teatro da guerra”. Em solo italiano os “recém-soldados” ficaram admirados frente ao poderio dos equipamentos militares americanos e alemães. Receberam dos nossos “irmãos do norte” vestuário, alimentação, instruções sobre armadilhas, o combate e o manejo de armas. De todo modo, a inexperiência logo seria substituída pela aprendizagem prática, nascida do campo de batalha. Nele os febianos foram batizados com sangue. Precisaram enfrentar o inimigo “nazista”, o enorme frio europeu, o perigo e a lama das trincheiras, as precárias condições de higiene, a alimentação à base de conservas e enlatados, os ferimentos, o cansaço de meses sem dormir direito, a saudade, a monotonia da solidão e o barulho ininterrupto.

Tiveram que vencer o sentimento de culpa, a impotência e o terrível medo da morte. Infelizmente, os expedicionários se viram obrigados a conviver com essa dura realidade e foram dela também as vítimas, muitas vezes desamparadas nos campos de cada nova e constante batalha. A Imprensa do período sempre se dirigia aos pracinhas com um grande fervor nacionalista. Palavras de cunho apologético eram empregadas com convincente habilidade emotiva. Era comum o uso de adjetivos tais como “heróis” e “defensores da pátria”.

As vitórias alcançadas por esses pracinhas nos campos de batalha, assim como as baixas sofridas eram descritas com trilhas que conduziam à glória. Depois de declarado o cessar fogo, o retorno destes jovens que partiram com bigodes “recém-nascidos” e que ao retornar estavam “barbudos, sujos e fatigados”, como escreveu um certo historiador, anunciaram um período de festas. Em Sergipe não foi diferente. Em meio ao improvisado “Carnaval da Vitória”, nossos pracinhas teriam muitas histórias para contar.

Marlíbia Raquel de Oliveira é graduanda em História, bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET/História/UFS e membro do Grupo de Estudos do Tempo Presente – GET/CNPq/UFS. Integrante do projeto Memórias da Segunda Guerra em Sergipe (CNPq/edital 07/2011 e PRONEM/FAPITEC). O artigo integra as colaborações feitas à coluna do GET.
 

Fonte:https://www.infonet.com.br//educacao/ler.asp?id=131301