O Racismo na Eurocopa: o caso Mario Balotelli

07/07/2012 08:23
O Racismo na Eurocopa: o caso Mario Balotelli
Confira o artigo de Rafael Costa Prata

 

 

Às vésperas do inicio da Eurocopa, o evento futebolístico mais importante deste ano, o atacante italiano Mario Balotelli, de ascendência ganesa, afirmava que em decorrência dos constantes casos de racismo a qual tem sido acometido na sua curta carreira como jogador de Futebol, usaria durante a competição seu sobrenome africano, o ganês Barwuah, em sua camisa pela squadra italiana.

A Eurocopa terminou neste domingo, 1º de Julho, sem ter sido dada ao jogador a oportunidade de portar por detrás da camiseta a concretude de sua promessa, fato que se deu talvez por exigência do corpo técnico da equipe italiana ou do próprio evento, para não conferir mais espaço às polêmicas já existentes. Entretanto, infelizmente o que não foi possível evitar e tornar bastante visível no decorrer de todo o evento foi à ocorrência de uma serie de manifestações racistas direcionadas a sua pessoa.

 

 

Num desses casos, ocorrido no dia 14 de Junho, durante a segunda partida da seleção Italiana no torneio, torcedores croatas ecoaram cânticos racistas destinados a Mario Balotelli durante toda a partida, arremessando inclusive bananas em sua direção.  Por conta desse fato, a confederação croata de futebol foi multada pela UEFA em 80 mil dólares. Balotelli, que também sofre certo tipo de preconceito midiático por conta de sua suposta “marra” como jogador, acabou se tornando a vítima única, o alvo solitário das ações racistas de uma parcela significativa do público que encheu os estádios europeus durante a Euro.

De forma prejudicial, muitas vezes desvia-se o foco da discussão, que deveria ser sobre o racismo, para esse traço do seu jogar bola. Nesse sentido, Balotelli parece até ser culpado por apresentar algo que é típico dos grandes jogadores, característica tão comum que faz do futebol esse esporte tão apaixonante. Talvez por ser negro e craque, diga-se de passagem, jogando na seleção italiana, isso ganhe mais dimensão do que com outros.

Mario Balotelli tem de provar a cada dia a sua condição como jogador e, mais profundamente, como ser humano. Seu Jogo é dentro e fora de campo, nas arquibancadas, na mídia. O comovente choro derramado neste domingo, após a derrota italiana para a Espanha, tem um significado que pode ser compreendido de forma mais simbólica e profunda: é o grito silencioso de alguém que personifica como resposta a recusa à resignação.

O Perigo a ser combatido está no risco da naturalização dos eventos racistas ocorridos não somente no futebol, mas nos esportes em geral. Cabe à sociedade como um todo lutar contra essas questões, compreendendo que todos esses eventos, que vão desde os gritos furiosos da torcida russa do Zenit até os louvores de teor fascista da torcida italiana da Roma, não são e não devem ser vistos como parte integrante do “folclore futebolístico”, distanciando-se daqueles que proferem em tom elevado aos quatro cantos que “dentro do campo, tudo é valido”. Até o Racismo?

Rafael Costa Prata é graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe. O artigo integra as colaborações feitas à coluna do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS).

Fonte:https://www.infonet.com.br/educacao/ler.asp?id=130854&pagina=1