A gente não quer só brinquedo

09/10/2012 14:49

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Recentemente comemoramos o Dia das Crianças. Sei que muitos pais se apertaram para comprar um presentinho. Uns, sem grandes problemas (dinheiro sobrando no bolso), outros nem tanto, e muitos se endividando. Mas o que será mesmo que elas gostariam de receber durante todo o tempo?

Posso afirmar que o que elas mais precisam não custa muito. Precisam de pequenos gestos, no cotidiano, que demonstrem amor, presença, carinho, atenção, companheirismo, ternura, cuidado, segurança, proteção. E quantas crianças dispõem disso hoje em dia?! Muito poucas. Em todas as classes sociais esses gestos que demonstram sentimentos quase nunca são oferecidos. Estão em falta, e muitos pais ainda acreditam que podem trocá-los por presentes!

Na minha geração as mulheres acreditaram em duas “verdades”, a qual, hoje, considero totalmente equivocadas: (1ª.) “a mulher tem que sair de casa para trabalhar se quiser tornar-se independente; (2º.) “o que vale é a qualidade e não o tempo que se passa com o filho.”

Independente de quê e de quem? É a minha primeira pergunta, porque ao nos ausentarmos – seja por absoluta necessidade de subsistência, ou por uma carreira – deixamos para trás nossas “crias”. Juntando essas duas “verdades” as mães e os pais extrapolaram...” Se tenho que sair para trabalhar e ganhar mais dinheiro, não posso ficar em casa cuidando de filho, ora bolas!” e o resultado disso, hoje, é bem visível. Filhos ausentes, filhos omissos, filhos “ingratos”, sujeitos intratáveis, pessoas perdidas, desencorajadas, tais como foram seus pais.

Será que hoje já sabemos que é preciso agir de maneira diferente?! O mundo evoluiu, as pesquisas na área da infância aumentaram, mas, infelizmente, o comodismo e o egoísmo do adulto também! Os fabricantes de brinquedos agradecem.

Os resultados de estudos da relação mãe-filhote em primatas não humanos consideram importante e decisivo a presença da mãe no desenvolvimento do filhote, que aos poucos, de acordo com seu desenvolvimento motor (andar) e o aumento da curiosidade pelo ambiente e pelos outros membros do grupo, vai se afastando da mãe e aprendendo a sobreviver sozinho, embora continue demandando seus cuidados. E por que seria diferente com os humanos?

O que sei é que as pesquisas revelam que todos os animais, assim como os filhotes humanos, precisam ser acalentados e aconchegados. Acalentar significa: consolar, acariciar, mimar, embalar (e fazer dormir cantando), ninar, afagar, agasalhar, sossegar, tranqüilizar, consolar, animar, favorecer, lisonjear e aconchegar significa: agasalhar, abrigar, amparar, proteger... Essas ações, que todos podem fazer, independente da classe social, não custam nem um centavo.

O contato físico, o toque, o olhar e ver a criança, prestar atenção, conversar com ela e não para ela, respeitá-la como ser humano, estar presente, ouvir seus casos com interesse, admirar seus desenhos, elogiá-la são atitudes que revelam o amor e o cuidado. Não precisamos de muita inteligência pra saber que NENHUM presente substitui essa presença carinhosa e protetora dos pais!

A falta disso ocasiona transtornos do comportamento e deve ser por isso que a sociedade anda tão doente, de afeto, de segurança, de amor. Faltam-nos proximidade e contato, não trocamos carícias, nem gostamos que nos toquem. Alguém já disse que em nossa geração “produzimos uma raça de “intocáveis”. Quanto mais civilizado é o povo, mais acéticos é, mais distante e mais frio...

Acredito que igual ao estribilho da música “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte! As crianças podem estar gritando: “A gente não quer só brinquedo, a gente quer brinquedo, atenção e amor! Pense nisso. Quem sabe ainda dá tempo de MUDAR DE ATITUDE, AINDA ANTES DO NATAL.

(*) Profª Drª Ângela Maria Costa
Professora do curso de Pedagogia da UFMS
Coordenadora da Aliança pela Infância MS

Fonte:https://www.aliancapelainfancia.org.br/artigos.php?id_artigo=6